domingo, 25 de janeiro de 2015

Ícaro Redimido


FREIRE, Gilson. Ícaro Redimido. Brasil: Inede, 2013. 10ª ed.

            Gilson Freire é de Belo Horizonte e atuante no movimento espírita. Como médium escreveu alguns livros por inspiração como é o caso deste. Outros são produtos de suas pesquisas na área da saúde. Em Ícaro Redivivo foi inspirado pelo espírito denominado Adamastor desencarnado no século dezenove. Atualmente, Adamastor é trabalhador da colônia espiritual Portais do Vale e nos relata a história de Alberto Santos Dumont após seu desencarne.
            Gilson nos apresenta uma história com relatos minuciosos através de quarenta capítulos, um glossário uma vez que faz uso de certas expressões médica nada comum ao nosso cotidiano e muitas dessas expressões são de origem espiritual e conclui com mensagem de Santos Dumont de julho de 1948 através do médium Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo.
Adamastor ou Gilson nos relata a história apresentando um reduzido número de trabalhadores no atendimento a Santos Dumont que são: Heitor, o espírito responsável pelo atendimento ao nosso personagem, o atendente Adamastor que sob as orientações de Heitor responsabiliza-se pelo socorro a Alberto, Adelaide, espírito em aprendizagem que é convidada a estagiar através do  resgate e tratamento de Alberto e Fausto atendente do Departamento de Embrioterapia.  Os demais trabalhadores dos departamentos visitados e mencionados por Adamastor não foram destacados.
A história acontece em uma cidade do mundo espiritual denominada Portais do Vale, extremamente próxima ao Vale dos suicidas, local onde se reúnem espíritos que desencarnaram pela porta do suicídio. Para Portais do Vale são encaminhados alguns tipos de suicidas para trabalho de recuperação espiritual.
Certo dia Heitor apresenta-se a Adamastor com a incumbência de resgatar Alberto que havia alguns anos dormia nas Cavernas do Sono no Vale dos Suicidas após deixar a vida terrena através de enforcamento do corpo físico. Fizera Alberto uma singela prece a Maria Mãe Santíssima em poucos murmúrios; foi o bastante para providenciarem seu resgate. Ele vivia um sono reparador, com atividade consciencial extremamente baixa e que ao acordar necessitava de atendimento imediato para evitar que diante da amarga realidade que trazia, adentrasse a camadas ainda mais profundas de sua intimidade espiritual entrando em estado de ovoidização. Essa é uma doença que acomete espíritos de baixa elevação espiritual em função de pensamentos fixos de ódio e vingança como também outras possibilidades, perdendo a capacidade de pensar continuamente; assim o períspirito perde a forma humana tornando-se semelhante a um ovo. Uma vez nessa condição recuperar-se é somente através de várias reencarnações expiatórias.
Os cinco primeiros capítulos foram para narrar detalhadamente o resgate de Santos Dumont das Cavernas do Sono.
A partir do sexto capítulo é dado início a tratamento rigoroso através de passes magnéticos, medicamentos a base de homeopatia para o refazimento espiritual de Alberto. Segundo Heitor, fator que muito dificultou no restabelecimento de nosso personagem, foi a ausência de um sentimento de religiosidade através de fé sincera se tivesse sido cultivada pelo mesmo.
Alberto apresenta-se sem memória e de acordo com o autor isso se intensificou devido ao suicídio que por ser uma forma brusca de retornar ao mundo espiritual não permite ao espírito realizar a revivência mnemônica, que é a retrospectiva que as criaturas fazem ao desencarnar revendo as experiências da reencarnação que findou. Essa revivência é de fundamental importância para sedimentar os conhecimentos adquiridos na reencarnação reedificando o psiquismo para dar continuidade à sua vida na erraticidade e na reencarnação futura.
A intimidade espiritual de Alberto não trazia essas lembranças fixadas para que ele continuasse sua caminhada evolutiva.
Um dos primeiros setores para onde conduziram Alberto foi o Departamento de Embriologia onde seria encaminhado para reencarnação. Somente através do contato com a matéria conseguiria receber os impulsos criadores da forma humana somado ao fluido vital, isso o auxiliaria no processo de recomposição da forma perispiritual e psíquica.
Adamastor conduz Adelaide ao departamento citado dando-lhe uma aula sobre as variadas condições de um ovoide sob vários aspectos. Os que ali se encontravam internados estavam em vias de reencarnar objetivando recuperação. “Após vários ensaios reencarnatórios malsucedidos, o ovoide pode se recuperar e refazer seu molde perispiritual na conformação humana” esclareceu Adamastor. Entendemos que esse é um, entre vários esclarecimentos sobre nascimento de seres com deformidades e que a medicina terrena não apresenta explicação.
A partir do capítulo nove começam a surgir outros espíritos vinculados à história de Santos Dumont, espíritos esses comprometidos com nosso personagem já de antigas épocas e que organizados por Heitor vão novamente entrando em sua história com o propósito de refazerem assuntos que deixaram pendentes em reencarnações anteriores, mas também auxiliar no seu tratamento.
O primeiro espírito a ser chamado para resgate é Catherine, cortesã de origem francesa, residente no Brasil e que mantinha uma casa de prostituição arregimentando e explorando jovens no comércio do sexo. Devido à ambiência espiritual da casa, Heitor teve dificuldade para fazer contato com a mulher dada as vibrações ao seu redor e a quantidade de espíritos viciados no sexo e orgia que habitavam seu quarto aguardando as movimentações noturnas. Somente usando de suas induções mentais conseguiu inibir os pensamentos libertinos de Catherine fazendo-lhe lembrar-se do saudoso pai e imediatamente suas artérias temporais se dilataram dando início a uma terrível crise de enxaqueca impedindo-lhe as atividades noturnas e causando o afastamento das criaturas espirituais libertinas que lhe aguardavam a companhia para os regalos da noite. Durante o sono físico Heitor apresenta-se para Catherine, transvestido da figura de seu pai e com ela tem atencioso diálogo paternal, mas apresentando-lhe a necessidade de mudanças e para isso propõe-lhe a possibilidade de ser mãe. Envolvida nesse clima espiritual e familiar Catherine aceita e naquela noite através de delicada operação magnética Alberto é colocado na cavidade uterina da cortesã onde ficaria absorvendo-lhe as energias maternas e aguardando o momento propício para a fecundação.
Adelaide naquela fase de sua vida estava tendo um relacionamento mais íntimo e um tanto quanto afetivo com um jovem chamado Abelardo que ao tomar conhecimento da gravidez da mulher abandonou-lhe à própria sorte. Os primeiros meses se passaram e Catherine sem forças para manter a gravidez sozinha em meio à vida que mantinha optou por abortar.
Adamastor narra os pormenores da cena abortiva e do ambiente espiritual de baixíssimo nível na casa da mulher que realizou o ato criminoso. Ali existiam espíritos vampiros que aguardavam as vítimas para absorver-lhes as energias vitais sustentando-lhes as viciações.
O ato foi consumado com a presença de Heitor, Adamastor e Adelaide resgatando novamente Alberto daquele ambiente hostil, porém com renovadas possibilidades de restabelecimento de seu períspirito e psiquismo embora sua nova vida física não tenha conseguido concretizar-se.
Naquele mesmo dia sem o devido atendimento médico Catherine faleceu em decorrência de hemorragia. Heitor também a resgatou conduzindo para localidade do mundo espiritual diferente da de Alberto, mas Adamastor nada relatou sobre o período de refazimento desse espírito.
Penso ser esse um ponto delicado da história. Catherine era espírito endividado com as leis divinas pelos equívocos do pretérito somado aos do presente no que diz respeito às jovens que aliciava para os desvios do sexo; igualmente comprometida com agrupamento espiritual desequilibrado e doente nos aspectos da sexualidade que ela alimentava com seu estilo de vida. Ao desencarnar naquelas condições, Heitor libertando-a das amarras psíquicas às quais estava comprometida, pareceu-me ação contrária às regras da espiritualidade que é de amor, mas a cada um segundo suas obras. No capítulo treze da página cento e treze no segundo parágrafo Adamastor diz: “Catherine não estava preparada para a reforma sadia de seu destino. Dera asas ao desespero, pois não desejava abandonar as comodidades e a luxúria sustentadas pelo dinheiro fácil, embora advindo de tão execrável fonte.”
No capítulo quatorze, página cento e vinte nove, fim do primeiro parágrafo, Adamastor narra o amparo de Heitor para com Catherine lembrando um texto evangélico e dizendo que se ela fora protagonista do escândalo, era porque o escândalo se fazia necessário, porém o autor não concluiu a fala de Jesus que diz também: “Ai daquele homem por quem o escândalo vem”.[1]
Retornando a Alberto reingressado ao Departamento de Embrioterapia, vimos que obtivera êxito com a experiência frustrada de reencarne que lhe serviu para iniciar a expansão reconstrutora perispiritual. Adamastor e Adelaide vão encontra-lo com o períspirito rejuvenescido, porém com a aparência de sua última reencarnação como Alberto Santos Dumont. Deixaram-no descansar o tempo necessário e lentamente ele foi se assumindo naquele ambiente que não conhecia, mas que julgava ser uma clínica em Petrópolis e apresentava a memória parcial relativa aos últimos tempos de sua última reencarnação sem a consciência de morte. Desejava saber de seus familiares e por qual motivo não se apresentavam para vê-lo. Acontecia com Alberto algo esperado em seu caso clínico: amnésia transreencarnatória, ou seja, esquecimento parcial ou completo das experiências relativas à última reencarnação, isso ocorre a espíritos desencarnados através de suicídio ou aborto, sendo assim não conseguem executar a recomposição adequada da memória ao migrarem de um plano para outro.
Iniciariam uma nova fase de tratamento com Alberto através da recapitulação mnemônica dirigida, ou seja, permitir a ele reviver o seu passado refazendo as vias de acesso à memória profunda para recompor a memória somática.
Muito interessante no capítulo 14 a descrição de memória somática e memória psíquica. A primeira refere-se às funções cognitivas e emocionais tanto no corpo físico quanto no perispiritual através de impulsos elétricos retidos pelos neurônios e imprimem magneticamente imagens e sons. Essa memória é limitada e o espírito a ela tem acesso fácil e diz respeito ao presente. Já a memória psíquica ou inconsciente nenhuma relação tem com os neurônios, registra todas as experiências do espírito desde sua criação, mas não tem acesso a ela facilmente. Ela exerce ação poderosa sobre a memória somática no corpo físico e no períspirito mantendo a continuidade da vida entre as reencarnações na escala evolutiva.
Através de variadas sessões de regressão de memória, seguindo técnica apurada de lembranças de momentos felizes primeiramente, para somente depois que o espírito apresentar maior restabelecimento dar vasão às lembranças traumáticas. Dessa maneira Alberto toma posse de seu passado como projetista e criador de balões e o inesquecível 14 Bis. Lembra-se também de suas frustrações com as concorrências na área humana, suas decepções com o corpo físico franzino, sua solidão. Assim, passou ele sua última reencarnação completamente dedicado aos projetos de aviação e na construção de seus dirigíveis.
À medida que se lembrava do passado, apresentava alguns aspectos de melhora, mas conservava a melancolia devido à frustrações. No capítulo dezessete e dezoito Adamastor narra detalhadamente as lembranças de Alberto relativa aos feitos na pele de Santos Dumont; mas o espírito não apresentava ainda lucidez plena como também sustentava as características de orgulho e vaidade com a melancolia como consequência das decepções vividas. No capítulo dezenove, Adamastor narra a ajuda que vão  procurar em Eulália, mulher que trabalhara servindo Santos Dumont na terra e que assumira compromisso antes de reencarnar de lhe servir até à velhice, coisa que não foi possível acontecer devido a morte prematura de nosso inventor. Para isso levaram-no para pequena estadia em sua casa de Petrópolis sob os cuidados de Eulália. Todo o capítulo vinte e um são as reflexões de Adamastor e Adelaide sobre a personalidade de Alberto Santos Dumont, suas fragilidades e dificuldades em relação ao orgulho e vaidade tão bem vividos na condição humana e que ainda se apresenta agora na erraticidade. Traçam alguns paralelos entre saúde e doença tendo por base os conteúdos emocionais das criaturas e analisam as dores humanas.
Já no capítulo vinte e dois eles refletem sobre a saúde física afirmando que “quaisquer que sejam as deficiências orgânicas manifestadas na carne, elas são sempre meros reflexos da queda de potencial das energias espirituais”.
“Quanto mais o homem encarnado tolerar seus males físicos menos irá padecer os transtornos de sua mente.”
Afirmam também a necessidade da reforma de nossos atos e sentimentos ao invés da ingestão de drogas buscando saúde; como remédio realmente salutar, apontam a evangelização de nossas condutas moralmente impróprias. Apresentam como recurso terapêutico utilizado naquelas regiões aos espíritos infelizes e doentes os passes magnéticos, a musicoterapia, a hidroterapia, as essências florais aspiradas diretamente da natureza e para casos mais graves a terapia regressiva como a empregada com Alberto.
No capítulo vinte e três é narrado ao leitor a revivência de nosso amigo aviador a respeito de sua morte física. Segundo Adamastor já se fazia necessário que Alberto se lembrasse desse momento trágico para então se posicionar na colônia como espírito imortal desencarnado. Com a colaboração de Adelaide que participou ativamente de todos os passos do tratamento, Alberto foi induzido novamente a sono hipnótico dando início à regressão focando exclusivamente as últimas horas de sua vida humana na cidade de Guarujá onde aconteceu o ato do suicídio. Assim ele revive cada minuto de sua morte com as emoções que lhe envolviam naquele tempo. Foi sofrido e muitas lágrimas sinceras foram vertidas por aquele espírito nesse momento de tamanha dor. Reconheceu-se morrendo, pediu ajuda em nome da Mãe Santíssima, reconheceu a infelicidade que buscou e imediatamente veio-lhe à lembrança os princípios religiosos: Deus, céu, inferno; julgou-se no purgatório uma vez que não via demônios. Chorou copiosamente.
Adamastor nos esclarece que os sofrimentos de Alberto nas desvinculações entre períspirito e corpo físico após a morte, se deram em função do suicídio como é natural, mas também pelo fato de seu corpo físico ter sido embalsamado. A esse fato dá-se o nome de distanásia, ou seja, o prolongado desligamento do espírito. Pelo corpo não ter entrado em estado de decomposição Santos Dumont permaneceu por tempo longo atado a ele em sofrimento intenso até que os obiatras, espíritos trabalhadores no processo de  desencarne fizeram o desligamento e ele teve condições de ser recolhido às Cavernas do Sono.
Essa sessão terapêutica foi de extrema importância para Alberto que apresentou pensamentos e comportamentos renovados. A partir de então seus tutores puderam iniciar processo terapêutico moralizador através de orientação espiritual que contribuíram para que novos conceitos de vida fossem absorvidos por ele. Tomou pleno conhecimento de sua realidade, onde se encontrava e das atividades diversas que eram realizadas naquela cidade espiritual. Novas regressões aconteceram sucedidas de sinceros diálogos com Santos Dumont que abriu seu coração para os amigos em relação às decepções da vida humana no âmbito profissional e íntimo no que dizia respeito à sua constituição física inclusive sexual, pois seus órgãos eram de tamanho reduzido o que lhe impedira ter convívio afetivo sexual.
Dos capítulos vinte e quatro ao vinte e sete Adamastor, Adelaide e Alberto tem longos diálogos fraternos sobre a vida de Santos Dumont, seus feitos e desfeitos, sempre com análises moralizadoras. No capítulo vinte e oito ressurge Heitor para de perto acompanhar o tratamento de Santos Dumont que já se encontrava renovado. Viera trabalhar com ele em regressões ao passado reencarnatório anterior ao da personalidade de Alberto Santos Dumont. Para isso tocou a fronte de Alberto manipulando o magnetismo hipnotizador conduzindo-o ao século quinze, na França durante a Guerra dos Cem anos quando nosso amigo envergava a personalidade de Zennon, agigantado e musculoso ferreiro que em seus fornos produzia as mais requintadas armas brancas da época. Era procurado por todos os guerreiros. Certo dia, de volta pra casa encontrou sua aldeia completamente destruída. Sua esposa Constança morta trazendo ao colo pequena criança também morta. Sua filha deduziu que foi levada pelos ingleses, os responsáveis pela matança. Trazendo no peito profundo ódio reconstruiu sua oficina e passou a produzir as mais terríveis armas, inclusive o canhão, para liquidar com seus inimigos. Agindo assim Zennon consorciou-se com falanges espirituais altamente desequilibradas e comprometidas com as guerras. Ao desencarnar viveu por longo tempo em regiões infelizes a serviço do mal e da guerra até o dia que sinceramente desejou não mais aquela situação. Ao ter esse pensamento se tornou maleável às preces da esposa Constança que nunca o esqueceu. No século dezessete retornou o casal às lutas terrenas. Zennon se dedicaria ao sacerdócio para adquirir novos conhecimentos e permitir que o evangelho lhe educasse. Constança apoiando o esposo amado também viria para vida monástica. Ele envergaria a personalidade do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão e ela Madre Paula de Sousa. Ambos serviam à Igreja em Portugal no reinado de D. João V. Bartolomeu era homem bonito com traços latinos uma vez que era brasileiro. Inteligente e considerado o padre dos inventos em função de seus projetos com fogos e foguetes. Embora novo, logo fizera amizade com o rei pelas concessões feitas ao monarca, homem obsceno e libertino a quem o padre Bartolomeu atendia oferecendo freiras para suas orgias sexuais. Convencia às religiosas das vantagens que teriam mantendo um relacionamento com o rei. O próprio Bartolomeu não sendo capaz de manter o celibato sustenta relacionamento amoroso com Madre Paula e convence as três irmãs da madre que também eram freiras a terem  intimidades com o rei para que seu caminho ficasse livre no convento. Com isso chegou a ocupar altíssimo cargo e recursos financeiros na corte portuguesa. Bartolomeu também era homem de poucos recursos morais mantendo vida sexual com mulheres casadas da corte aproveitando da respeitabilidade que seu cargo lhe dava. Mas alguém lhe vigiava os passos; era o cardeal da Cunha, implacável, impiedoso e sincero defensor dos interesses da Madre Igreja. Da Cunha era o defensor-geral do conselho do rei e inquisidor-mor do Tribunal do Santo Ofício em Portugal; insatisfeito com as invenções do padre, convocou um conselho para retaliações a Bartolomeu que enegrecia o nome da Santa Madre Igreja. O padre inventor foi obrigado a refugiar-se na Holanda. Outros escândalos surgiram sobre os feitos do padre com o rei até que certo dia, em função de ciúmes as  três freiras de Sousa, irmãs da madre Paula denunciaram o rei. O cardeal da Cunha mandou prender a todos envolvidos no escândalo, mas padre Bartolomeu avisado pelo rei conseguiu fugir. Em trama armada pelo inquisidor-mor da Cunha, madre Paula matou por envenenamento o padre Bartolomeu e veio a morrer louca na prisão.
Nessa regressão Alberto descobre que Heitor seu atual benfeitor fora no passado o inquisidor-mor da Cunha.
Heitor induziu Alberto a sono profundo após valiosos trabalhos; fez sincera prece suplicando a Deus as bênçãos do perdão sobre eles e miríades de cintilações caíam sobre todos.
No capítulo trinta Heitor esclarece aos amigos a sua história após as experiências como padre da Cunha, sua decepção após a morte do corpo por não encontrar-se no céu cercado de honrarias e glórias não sendo recebido pelo próprio Criador. Relata sobre o período que ficou nas regiões infelizes da espiritualidade, envolvido por satânicas entidades à mercê dos desafetos que lhe buscavam para vinganças. Somente teve algum alívio em suas dores após reencarnar na Bahia como escravo. Devido sua rebeldia pelo caráter irredutível muito sofreu nessa reencarnação e após sua morte dedicou-se à causa abolicionista. Mais tarde reconhecendo o mal que causou a Bartolomeu e Paula solicitou à espiritualidade maior trabalhar pelo estabelecimento dessas criaturas transformando-os em filhos do coração.
Nesse capítulo, Heitor esclarece sobre a atuação do artista Leonardo da Vinci apresentando-o como o espírito responsável pelos trabalhos em função da evolução das máquinas voadores dentre outros projetos para o orbe. Assim o que Santos Dumont acreditava ser obra sua nada mais era que a realização dos projetos de Leonardo da Vinci que Dumont materializou. Na verdade ele fazia parte da equipe que o artista conduzia do mundo espiritual. Isso muito contribuiu para dar fim ao elevado sentimento de vaidade que nosso amigo brasileiro ainda guardava em si. A realidade era muito maior do que ele imaginava.
No capítulo trinta e um além de algumas considerações sobre os aviões, Alberto e Heitor estreitam os laços de amizade e o tutor espiritual narra a Alberto da tentativa infrutífera de reencarnação a qual ele havia sido submetido nos últimos tempos.
O capítulo trinta e dois nos apresenta situações diferentes e produtivas para nosso amigo Alberto. Era ele um espírito renovado em todos os aspectos. Conseguia manter melhor relacionamento com outros espíritos em tratamento na cidade espiritual, não trazia mais as feições carregadas de orgulho e vaidade; nada reclamava de seu passado. Estava se submetendo à terapia orientacional que constituía de trabalho e instrução. Certo dia apresentou interesse em conhecer o setor da cidade Portais do Vale que tratava os cianoides, espíritos suicidas através do vício do tabagismo. Eram também chamados de homens-azuis por trazerem essa cor impressa em seus períspiritos em função do elevado teor de gás carbônico no sangue quando encarnados.
Era enorme salão que abrigava espíritos doentes. Os técnicos do setor trabalhavam com máscaras especiais para não se contaminarem com as exalações nocivas dos pacientes. Adamastor e Adelaide frequentavam o setor como trabalhadores; aplicavam passes de evacuação miasmática que drenava os remanescentes vibratórios das toxinas do fumo ainda presentes no períspirito daquelas criaturas infelizes. Ali Alberto teve aula presencial a respeito dos prejuízos do fumo para o organismo físico e perispiritual. Após os passes os enfermos faziam vômitos malcheirosos e repugnantes após acesso de tosse. Era quadro triste que sensibilizou Alberto e à semelhança de André Luiz espírito também desencarnado pelo suicídio tão conhecido pelo livro e filme O Nosso Lar, tomou dos apetrechos de limpeza pondo-se a higienizar o local. Era sua primeira ação de trabalho na cidade. Apresentou ele o desejo de colaborar naquele setor e Adamastor encaminhou seu pedido à direção do hospital que foi aceito de boa vontade. Alberto se tornou auxiliar da enfermaria de ex-tabagistas.
A partir do capítulo trinta e três a história de Santos Dumont envolve com as tramas humanas e  espirituais relativas à Segunda Guerra Mundial. Trabalhadores da cidade Portais do Vale foram convocados para assumirem atividades socorristas na crosta terrestre. Adamastor e Adelaide se apresentaram ao trabalho juntamente com Alberto que por insistência conseguiu autorização para fazer parte da equipe. Receberam os devidos treinamentos porque iriam socorrer almas sofredoras desencarnadas através da guerra independente de qual nacionalidade pertencessem.
Adamastor narra as organizações do bem no socorro assim como as organizações das equipes do mundo espiritual inferior na estimulação dos conflitos bélicos. São esses capítulos verdadeiras aulas de história, contudo mais profundas que as aulas das escolas terrenas porque foram acrescidas das informações do mundo espiritual. Alberto participava das atividades socorristas mas não perdeu a oportunidade de visitar Paris lembrando-se de seu tempo quando reencarnado. Trazia ainda um pouco de vaidade e orgulho ao desejar visitar lugares e amigos avaliando até quando ainda era lembrado pelos humanos. Porém tudo destruído em função da guerra.
Em meio a tanta dor surge Heitor trazendo consigo Catherine com vestes de freira. Apresentou a ela os amigos, inclusive Alberto, ambos não se reconhecerem de imediato, porém trocaram significativo olhar demonstrando terem certeza de se conhecerem. Além dos socorros à guerra Heitor ali estava para realizar alguns acertos relativos ao seu pretérito juntamente com Alberto e Catherine. Primeiramente trabalhou junto do cônsul de Portugal intuindo-o para dar visto de viagem para grande número de judeus daquele país. Heitor conseguiu esse feito porque o cônsul era seu comparsa de reencarnação passada quando na personalidade do inquisidor-mor da Cunha. Na época o amigo executava fielmente cada ordem do líder religioso condenando grande número de pessoas às fogueiras e prisões da Inquisição. Libertando os judeus colocou em risco sua posição social e cargo político junto ao governo daquele país. Foi a maneira de ressarcir seus débitos com as leis divinas em relação aos atos equivocados do passado.
Heitor antes de seguir viagem para outras atividades apresenta formalmente Alberto e Catherine. Ambos foram lembrados rapidamente pelo tutor de suas personagens dos tempos idos. Seu anseio estava realizado; unir os corações que ele tão bem havia separado quando inquisidor-mor da Cunha. Foram momentos de emoção e lágrimas sinceras. Parte da história estava concluída. Despediu-se também de Adamastor e Adelaide agradecendo a participação significativa de cada um no processo de reabilitação do casal.
A partir daquela data ambos trabalhavam socorrendo, cuidando dos necessitados e adaptando-se à nova realidade, envolvidos nos sentimentos antigos a serem reestruturados. Um dia foi conduzido ao acampamento de nossos amigos um soldado recém desencarnado numa explosão de granada apresentando-se cego pois fora atingido no rosto. Era brasileiro de nome Soldado Sampaio. Desejava se tratar logo para voltar ao seu país uma vez que sua esposa estava grávida.  Retorna ao acampamento Heitor para participar de mais um reencontro. O Soldado Sampaio recebendo cuidados de Catherine diz que sua voz lhe faz lembrar uma mulher que conheceu há alguns anos mas que havia falecido. Heitor esclarece ao grupo que aquele soldado era Abelardo o antigo amante de Catherine que a abandonara quando ficou grávida; esclarece também que aquele espírito estivera reencarnado em Portugal no reinado de D. João V e que fora traído por Bartolomeu que aproveitando de momento de embriaguez do amigo envolveu-se com sua esposa Maria Coutinho, perturbando a harmonia doméstica do casal. Heitor entregava o Soldado Sampaio a partir de então aos cuidados de Alberto e Catherine para que fizessem com ele tudo que receberam de seus amigos espirituais. Esclareceu também que a lei divina estava se apresentando na vida daquele espírito que abandonara a antiga amante não a protegendo nem a seu filho. Agora lhe era tirada a oportunidade de ser pai e à sua esposa que continua sendo Maria Coutinho ficava a responsabilidade de cuidar sozinha do filho aprendendo o valor da fidelidade. Juntos os amigos oraram agradecendo a Deus a oportunidade de aprendizado.
Finalmente a guerra termina, os amigos espirituais puderam retornar à cidade Portais do Vale dando continuidade a suas tarefas de socorro. Catherine se juntou ao trio e iniciaram os projetos para o futuro quando o casal reencarnaria  formando novo agrupamento familiar.
Catherine desejava dar socorro à esposa de Abelardo, assim como às jovens que desviara nos caminhos da prostituição. Alberto casando-se com ela se comprometia a apoiá-la nos propósitos espirituais.
No quadragésimo capítulo Alberto recebe homenagem diretamente do governador da cidade em forma de monumento, coisa comum naquela cidade. A peça retratava o canhão salvador, último invento de Santos Dumont que tinha por objetivo lançar boias à beira da praia para quem estivesse afogando. O monumento recebeu o nome de “Canhão da Paz”. O governador explica que a homenagem era por seu trabalho em prol da paz. Aqui também vejo um aspecto confuso na história, pois Adamastor e Adelaide realizaram delicado trabalho narrado detalhadamente estimulando Alberto a desapegar-se das glórias terrenas; quando finalmente ele apresenta certa maturidade espiritual, está empenhado no trabalho em prol do próximo, surge essa homenagem.
O governador agradece a Catherine pelo trabalho valoroso sendo desenvolvido na cidade espiritual e confere a ela e Alberto autorização para a partir de então passarem a atuar como assistentes da colônia deixando a condição de enfermos assistidos.
Heitor surge agora com melhores notícias. A equipe recebeu autorização para uma excursão de entretenimento e repouso em esfera elevada, a fim de recompor a exaustão do trabalho.


[1] Mateus, 18:7


 Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.

Psicanálise e Pediatria



DOLTO, Françoise. Psicanálise e Pediatria. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. 260 p. Título original:Psychanalyse et Pédeatrie – Les grandes notions de la psychanalyse Seize observations d’enfants.

            Françoise Dolto foi uma terapeuta parisiense nascida em 1908 e faleceu em 1988. Quando criança destacava-se pela inteligência, imaginação e ideias. Tinha ampla capacidade de raciocinar o que lhe custou a incompreensão familiar acompanhada de sérias dificuldades no relacionamento com a mãe, o que superou somente na idade adulta após submeter-se a tratamento analítico com René Laforgue. Foi pioneira em psicanálise de criança desenvolvendo importante experiência clínica, sendo reconhecida em seu trabalho. Sua obra e pesquisa tem reconhecimento internacional.
Na introdução do livro Psicanálise e Pediatria, Françoise Dolto analisa Freud como pesquisador e médico, reconhecendo o valor da técnica terapêutica criada por ele, a psicanálise, que abriu conforme palavras da autora, novos rumos de estudos ao historiador, ao sociólogo e ao psicólogo. Para ilustrar relembra o caso da menina Josette de três anos, em estado físico debilitado e acompanhado de crises de nervos. Após o médico avaliar a rotina da menina e sua família, descobriu que tudo começou quando os pais tentaram tirá-la do quarto do casal para ter o seu próprio. Após ser conduzida a um terapeuta que analisando o caso descobriu a causa da problemática e o pai esclarecendo a menina sobre o objetivo da mudança oferecendo a ela uma compensação afetiva em clima de amor, tudo se resolveu. A autora lembra que é a Psicanálise que consegue estabelecer a universalidade dos conflitos durante a vida humana.
Nos três primeiros capítulos da primeira parte do livro, Dolto faz exposição teórica. Primeiramente  apresenta a nomenclatura psicanalítica; em seguida trabalha sobre as fases da infância e puberdade com a influência de cada uma na vida adulta e finalmente analisa o Complexo de Édipo e a Angústia de Castração. Nesse último item apresenta o comportamento e sentimento tanto das meninas quanto dos meninos e as soluções inconscientemente engendradas por ambos para viverem bem os primeiros anos de vida, vivências essas que influenciarão em suas relações afetivas na idade adulta.
A autora dedica um capítulo à Enurese esclarecendo que após estudar o comportamento afetivo da criança, o terapeuta consegui avaliar em que fase ela se encontra e diante de quais obstáculos ela regrediu. Concluiu com as reflexões de que a enurese se dá como resultado da não resolução do Complexo de Édipo.
No quinto capítulo Dolto analisa a Angústia de Morte e a Angústia de Castração. Afirma que o temor da morte é fato natural, porém a angústia de morte se estabelece quando a criança tem em si recalques devido às elaborações do Superego no Complexo de Castração.
Na segunda parte do livro, a autora inicia trabalhando no capítulo seis o método psicanalítico; aborda a técnica de trabalho do terapeuta psicanalítico assim como outras técnicas psicoterápicas e cita alguns casos exemplificando a proposta analítica. 
A partir desses casos analisa a atuação dos pais, da criança em tratamento e do psicanalista. Salienta sobre a importância da “transferência” para que o terapeuta estudando o seu paciente nas reações afetivas deste para com ele, consiga estabelecer o diagnóstico e a terapêutica que melhor atenderá ao caso. A autora afirma que a psicanálise permite ao terapeuta compreender a lógica do comportamento dos indivíduos quer sejam psicóticos, neuróticos ou sãos, de acordo  com os mecanismos destes e seus comportamentos face ao psicanalista. Segundo Dolto, “a psicanálise não torna os indivíduos mais sãos do que eram antes do tratamento, mas coloca-os no caminho adequado para que venham a ser mais sãos após o tratamento”. Fala da possibilidade de cessar o tratamento quando há segurança de que no analisado tenha desaparecido os seus sintomas e que seus mecanismos inconscientes o permita viver em paz.
Dolto ressalta o papel educativo do psicanalista, afirma que sua análise deve ser isenta de pontos de vista morais ou culturais não devendo formular qualquer juízo de valor. Seu papel é discriminar os elementos de pulsões e contrapulsões que estão na base das reações de seu paciente.
No sétimo e último capítulo são apresentados desenhos, sonhos e relatos de tratamentos de algumas crianças; todas com dificuldades no relacionamento familiar, escolar e social. A origem dos conflitos de acordo com a autora, está na resolução do Complexo de Édipo que é inevitável no transcorrer do desenvolvimento humano individual.


 Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Interpretação dos Sonhos




FREUD, Sigmund. A Interpretação dos sonhos. Trad. Drik Sada. Porto Alegre: L&PM Editores. 2014. 198 p. Título original: Seishim bunseki nyumon,yume handan. Coleção L&PM POCKEL.

            Sigmund Schlomo Freud foi um judeu nascido em 06 de maio de 1856 na Morávia, Europa. Foi o filho mais velho do segundo casamento de seu pai. Criança precoce em inteligência e desde bem cedo recebeu apoio irrestrito da família para dedicar-se aos estudos. Quando constava 4 anos sua família mudou para Viena onde viveu por quase 80 anos. Desde bem jovem falava mais de 5 idiomas e formou-se em medicina vindo a trabalhar no início de sua carreira no Hospital Geral de Viena dedicando-se às pesquisas sobre doenças nervosas.
Após conhecer o médico Charcot introduziu a hipnose nos tratamentos de suas pacientes esperando chegar na segunda mente mais tarde batizada por Freud de ‘inconsciente’. Por sugestão hipnótica esperava dar fim à histeria. Através da experiência mal compreendida do médico Brauer com sua paciente Ana O. onde diálogos foram realizados entre médico e paciente sendo que esta conseguira se acalmar, Freud  iniciou o tratamento através das palavras, dando início à Psicanálise e as demais teorias advindas das vivências médicas bem sucedidas. Escreveu artigos que se transformaram em livros sendo alguns deles de fundamental importância para compreender a mente de Freud e a Psicanálise, alguns desses livros são ‘A Interpretação dos sonhos’, ‘Totem e Tabu’, ‘Além do princípio de prazer’, ‘O eu e o id’ e ‘O Mal-Estar na civilização. Foi casado com Martha Bernays com quem teve 6 filhos e usou das experiências com eles para entender a mente infantil; sua filha mais nova Ana Freud foi a única a seguir a carreira profissional do pai vindo a acompanha-lo na velhice como filha, enfermeira, companheira e discípula.
Com as perseguições aos judeus na 1ª Guerra Mundial, sua filha Ana chegou a ser presa por um dia, Freud decidiu abandonar Viena mudando com a família para Paris e posteriormente Londres. Teve seus livros queimados na Alemanha. A esse tempo já sofria com um câncer na boca que o obrigou a várias cirurgias. Mesmo com a doença nunca abandonou seus charutos. Em 23 de setembro de 1939 objetivando não mais sofrer com a doença fez uso de dose letal de morfina, com a ajuda de Ana, vindo a falecer. Suas cinzas foram colocadas num vaso etrusco de sua coleção de antiguidades. É considerado mundialmente o pai de Psicanálise que encarava como a Terra Prometida fato citado no livro Velho Testamento.
Através de Mangá ou histórias em quadrinhos a editora lançou mais um clássico da literatura. Em a Interpretação dos Sonhos apresenta de forma sucinta e com linguagem de fácil compreensão, a vida de Freud a partir de sua entrada como residente da Universidade de Medicina de Viena, no Hospital Geral da mesma cidade. Apresenta a inteligência do jovem Freud, seu interesse pelas doenças emocionais ainda incompreendidas no século XIX, as barreiras políticas em função de sua origem judia e suas buscas através de médicos renomados da época com propostas inovadoras como o neuropatologista Charcot e suas pesquisas terapêuticas com a hipnose.
A interpretação de Freud sobre os problemas emocionais que logo denominou traumas invisíveis era por demais abstratas para as mentes daquele século. A história não deixa de lado a vida particular de Freud apresentando seus conflitos emocionais, a relação familiar, a interpretação que faz de seus próprios sonhos e sua autoanálise.
O médico especialista em neuropatias Josef Breuer teve participação importante nas pesquisas de Freud através de sua paciente Ana O. Dr. Breuer tratava de Ana ouvindo-a, permitindo que ela lhe narrasse experiências passadas que se relacionavam com o momento de suas dores. A cada novo relato de Ana um sintoma desaparecia até que se curou; porém, Dr. Breuer não continuou empregando essa técnica. Imediatamente Freud inicia a aplicação da técnica em seus pacientes que também apresentam melhoras, então conseguiu chegar ao ponto X da questão: Os traumas invisíveis são de origem psicológica, o espírito também adoece e a causa de todos os sintomas físicos é a fraqueza psicológica inerente aos seres humanos. Freud concluiu que quando criamos emoções que não somos capazes de aceitar, reprimimo-las ferindo nosso corpo em vez de enfrentar as causas que nos ferem a alma.
Reflete Freud que, o impulso que motiva a doença psicológica é de natureza sexual uma vez que o ‘Amor’ é o sentimento que contrapõe as emoções humanas com as regras da sociedade. Na nova técnica do pesquisador judeu o próprio paciente é que descobre a origem de seu mal; ele propõe a livre associação das ideias onde o paciente narra suas lembranças, sonhos, fantasias, pensamentos e o médico Freud com sua intepretação fazia a associação das falas do paciente com as lembranças reprimidas e dolorosas do seu passado. É um trabalho que demanda tempo e sozinho é muito difícil que o paciente caminhe com sucesso. A essa técnica deu o nome de Psicanálise.
Freud continuou estudando seus pacientes e se analisando, assim construiu a teoria das fases do desenvolvimento infantil que tem por objetivo o desenvolvimento psicológico do ser humano; o complexo de Édipo, a interpretação dos sonhos associando-os à satisfação de nossos desejos mais íntimos; os atos falhos e as instâncias Id, Ego e Superego.
Suas teorias psicológicas passaram a ser comentadas na sociedade, estimulando o interesse de alguns médicos e pesquisadores formando o movimento psicanalítico onde discutiam o pensamento de Freud bem como o de alguns companheiros do grupo. Um dos membros do movimento psicanalítico era Carl Gustav Jung. Fundaram a Sociedade Psicanalítica, mas com o tempo surgiram divergências entre as ideias dos próprios membros com a psicanálise. A principal divergência era entre os conceitos de Freud e Jung sobre o Inconsciente. Para Freud era uma instância que arquivava todas as experiências do homem desde o nascimento; é instintiva e guarda as causas íntimas de nossos conflitos. Para Jung o inconsciente era mais amplo, pois acreditava que ele herdara os conceitos e  histórias de cada povo, ao que ele nomeou de Arquétipos, que são as causas de nossos tormentos psicológicos.
Outra causa da dissolução da Sociedade Psicanalítica foi a Primeira Guerra Mundial. Em função dela Freud fez várias reflexões sobre a sociedade; a essas ideias deu o nome de ‘O Mal-estar na cultura’. Desse assunto ele concluiu que a humanidade embora civilizada não perdera seus impulsos mais primitivos e que o ser humano quando ameaçado deixa que o Id se manifeste para sobreviver, porém esta manifestação será instintiva e violenta. Id, Ego e Superego se manifestam nas relações humanas determinando os caminhos trilhados por cada ser humano. A sociedade através de sua moral e ética sublima as energias do Id construindo a civilização e determinando a evolução.
Nessa fase Freud ministrou seu último curso de Introdução à Psicanálise e em função da guerra se viu obrigado a fazer sérias mudanças em sua vida.
O livro usa uma técnica agradável para ler assunto tão complexo e atingir um público jovem. Com ele é possível compreender as teorias de Freud e o percurso realizado pelo médico judeu para estabelecer suas conclusões sobre as doenças da alma.

 Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.
 

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Karma - A origem da dor





FIORAVANTI, Celina. Karma – A origem da dor. São Paulo. Pensamento, 180 p. 1995.


Celina Fioravanti foi escritora, taróloga, estudiosa da Antiga Tradição Cabalística. Realizava palestras e cursos a distância de estudos místicos e religiosos. Formou-se em Belas Artes pela Universidade Federal do Paraná onde fez licenciatura em Desenho. Sua obra é composta por mais de 30 livros tendo alguns sido publicados em outros países. Faleceu em 2 de abril de 2007, seu filho e nora continuam divulgando suas obras.

O livro Karma – A origem da dor foi escrito em função das inúmeras perguntas que os alunos e participantes de suas palestras faziam após ouvi-la. Fioravanti inicia o livro conceituando a palavra Karma como o acúmulo de diversas situações que geraram um conjunto energético intenso, impresso no espírito e no períspirito. A eliminação do karma se faz sempre por meio da dor sendo também possível eliminá-lo de maneira libertadora e positiva usando a razão e o livre arbítrio. O objetivo do karma é aprendermos a viver melhor com responsabilidade por nossos atos. Fala a autora que sempre que alguém desenvolve suas capacidades inatas purificando-se liberta-se de seus karmas e deixa de produzir novos. Esclarece que a dor é força viva, atuante, que deveria nos impulsionar ao crescimento através da compreensão de suas causas; não sendo assim de nada adiantará sofrer. Aponta ela os vários tipos de reencarnação e de karma e aponta possíveis causas e comportamentos renovados para a solução dos problemas.

A autora apresenta como um item importante nas questões kármicas a morte da personalidade egoísta. Para realizarmos esse trabalho ela apresenta um roteiro inspirado na Teosofia. Nesse roteiro um item fundamental para a não produção de karma é a reformulação do pensamento e a reestruturação dos conceitos verbais.
Celina afirma existir relação entre o karma e a astrologia com três situações distintas a saber: Ação, pensamento e sensação. As nossas ações estão ligadas ao signo astrológico solar, os nossos pensamentos ao signo astrológico ascendente e finalmente os nossos sentimentos estão ligados ao signo astrológico lunar. Então é importante conhecermos a qual signo solar, ascendente e lunar estamos ligados para compreendermos nossas ligações kármicas e sabermos o que trabalhar em nós.

Há a necessidade de queimarmos nosso karma e para isso é primordial passarmos pela dor e praticarmos o bem ao semelhante. Segundo a autora sentir a dor é viver passivamente, a iluminação acontece quando humildemente trabalhamos para servir e melhorar a vida do próximo. A ação somada às orações queima todos os karmas.
A autora faz um levantamento das diversas situações kármicas de dor. Aponta o casamento como uma das situações, devido as variadas implicações existentes nesse tipo de relacionamento, o mesmo ocorrendo nas relações entre pais e filhos como também no trabalho. Em todas essas instâncias há a necessidade do afeto e da educação amorosa para a solução dos conflitos existentes. Em relação à saúde há diferentes níveis de karmas originando doenças que deverão nos ensinar a valorizar e zelar pelo nosso corpo. Nesse nível também pode apresentar segundo a autora a obsessão, que é a atuação de um espírito de baixo nível evolutivo sobre um encarnado. Isso se dá em função de problemas existentes entre ambos em reencarnações passadas onde gerou o karma. O obsessor é um sofredor que recusa ajuda para manter a ‘vítima’ sob seu jugo. 

Fioravanti analisa algumas problemáticas de certas pessoas em relação à sexualidade apontando como resultado do baixo nível evolutivo do ser humano, podendo algumas práticas tal como o aborto tornar a pessoa uma criminosa. Também a religião é analisada pela autora como geradora de karma, inclusive coletivo quando seus adeptos deixam de se guiar pelas possibilidades que a mesma apresenta de evolução e a tem como salvadora. Outro ponto de muita importância para geração de karmas difíceis para futuras reencarnações são os vícios e o suicídio.


Na segunda parte do livro, Celina Fioravanti trabalho sobre as origens da dor propriamente dita explicando que há três tipos de dor, a saber: Material, mental e reflexa; e existe três tipos de sofredores: Revoltados, resignados e resignados ativos. Ela explica que para equilibrar o karma é fundamental fazermos mudanças em nós educando o pensamento. Ela ensina a fazer esse processo educativo através de treinos; orienta sobre alterar a nossa capacidade de percepção dos fatos; sair do estado de inércia mental ganhando lucidez; fazer bom uso da palavra; modificar nossos atos nos tornando pessoas melhores. Nessa parte a autora apresenta os obstáculos às nossas modificações que são: Ilusão, desejo, apego, medo, tristeza e dúvida. Ela apresenta alguns caminhos para fazermos o trabalho conosco de mudança de atitudes para queimarmos os karmas existentes e não criarmos novos. São o caminho da intuição captando com maior naturalidade as informações do mundo espiritual; o caminho da busca do conhecimento insistentemente para nos libertarmos; o caminho da atuação sobre os quatro elementos da natureza; enfim àquelas almas que estão mais evoluídas há o caminho das práticas devocionais.

Fioravanti apresenta os fundamentos do erro. Trazemos em nós sentimentos nocivos à nossa saúde física e espiritual, sentimentos ligados aos sete pecados capitais que são: A ira, o orgulho, a avareza, a inveja, a impureza sexual, a gula e a preguiça. Ela apresenta as características de cada pecado, o comportamento daquele que alimenta em si um deles, a vinculação desses sentimentos com o mundo espiritual inferior e ao fim sugere algumas orações a serem feitas em relação a cada pecado.
No terceiro e último capítulo a autora apresenta sete exercícios que podem ser utilizados por qualquer pessoa, o objetivo é amenizar as dificuldades que esteja enfrentando durante a queima de karma.


1º- A escada
     Queimar karma por etapa.
2º- O arco-íris
      Trabalhar com luz ativando energias espirituais e harmonizando o corpo.
3º- O triângulo de forças
      Sustentação material e condução ao céu.
4º- A respiração de eliminação
      Oxigena o corpo, absorve o fluido vital e variação de imagem mental com     
      efeito no corpo.
5º- A estrela de cinco pontas
      Proteção contra as forças negativas dos seres sem luz.
6º- Os pensamentos contrários
      Acorda a mente mergulhada na ilusão.

7º- Os círculos de cor
      Purificação de ambientes através do uso das cores.
 

Segundo palavras da autora na página 174, ela tem ‘uma formação esotérica’ e observei nesse livro, pois não conheço outros dela, que a autora compõe seus ensinamentos sob uma variedade de conhecimentos não se permitindo uma linha específica de raciocínio. Ora usa termos espíritas, ora usa exercícios esotéricos, ora indica informações de astrologia, ora cita ensinamentos de religiões orientais. Acredito que essa união de informações utilizadas, possa dar ao leitor ideia equivocada ou incompleta das filosofias citadas pois em alguns aspectos teóricos, há divergências de pensamento entre elas. Não entendi também a editora classificar o livro de Celina Fioravanti numa ‘Coleção Espírita’, demonstrando desconhecimento, uma vez que a palavra karma não faz parte da terminologia espírita porque seu significado anteriormente estabelecido pelas religiões orientais não comungam com a visão espírita da evolução. Allan Kardec, o elaborador do Espiritismo adotou a expressão ‘Lei de Causa e efeito’ por atender melhor à proposta de evolução do espírito, defendida por essa doutrina. Para o leitor que desconhece as linhas filosóficas que sustentaram o pensamento da autora, ficará uma informação deturpada em alguns aspectos. Para aquele que conhece, fica o aprendizado sobre o ponto de vista de Celina Fioravanti em relação à palavra karma.


 Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.